TATU OU COBRA?
Aristophanes Pereira
Não há quem controle o desmantelo de um sistema, quando ele vive, permanentemente, perturbado por contradições. É o caso do Banco do Brasil, versão século XXI.
O outrora poderoso e acreditado Ministro Paulo Guedes, em palavras chulas, mas claras, já tinha dito, em famosa reunião ministerial, dia 22/4/20, na cara de Bolsonaro:
O BB é um “caso pronto de privatização”(..)“ não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público” (...)"tem que vender essa porra logo".
Agora, quase um ano depois, passando pela queda de um presidente desencantado(Rubem Novaes) e transcorridos poucos meses da posse do substituto(Andre Brandão), eis que a “porra” do BB já mergulha numa nova crise, de consequências imprevisíveis, mas, certamente, prejudiciais à empresa Banco do Brasil S.A.
Só pra completar este BO(BOLETIM DE OCORRÊNCIA), lembro que não cabe mais comparar o BB com a Caixa Econômica e BNDES. Ambos são empresas públicas, controladas 100% pela União. Diferentemente, o BB é uma sociedade de economia mista, da qual a União participa com pouco mais de 50%, na companhia de milhares de outros acionistas. E tem mais: está subordinado às regras do Sistema Bancário, tem que ser lucrativo, competitivo e tecnicamente gerido, sem injunções político-partidárias.
Neste ponto, ocorre-me recordar, por oportunas e coincidentes, as palavras de Osires Silva – fundador da ex-estatal EMBRAER – em entrevista, no Estadão(14/1/21), quando diz o que recortei a seguir:
“A empresa(EMBRAER) estava em um momento de transição e não projetava ter um futuro promissor sob as rígidas regras que regem as empresas do Estado. Ela precisava ser privatizada e assim ganhar agilidade para voltar a investir e crescer.
(...)No final a privatização se mostrou como a decisão correta, pois a empresa cresceu muito, gerou muitos empregos e riqueza para a região e o Brasil.”
Sempre fui – por convicções técnicas e doutrinárias, que externei muitas vezes – defensor do estado mínimo, indutor das atividades econômicas, mas não agente participante. Em aparente incoerência, considerava e defendia o Banco do Brasil como instrumento indispensável de sustentação de políticas públicas. Isto começou a mudar a partir dos anos 60, tornando-o, progressivamente, disfuncional e de identidade confusa. Ao tecer essas comparações e raciocínios, estou assumindo uma nova posição, decididamente, favorável à privatização, bem ponderada, do Banco do Brasil S.A.
Chegamos ao momento crucial da transmutação, em que a sociedade brasileira tem de decidir se o seu BB(sem trocadilho) vira cobra ou tatu. Não se anteponham caprichos, porque não simpatiza com o presidente Brandão, ou não aceita lives protagonizados por supostos “esquerdistas”. Acima de trocos políticos, a busca, pelo Banco, de ajustamentos, correções tecnológicas e estratégias mercadológicas é uma questão de sobrevivência, em tempos de profundas inovações digitais, novos hábitos de consumo e de (des)uso da moeda, em meio a uma concorrência veloz e voraz.
Jaboatão dos Guararapes, 14/1/21.
Imagem Istoé Dinheiro, no Google