NOVO ESTILO DE VIDA
Aristophanes Pereira
Depois de minha recente passagem para o seleto e empolgante Clube dos Nonagenários,
ou “noventões”, na sequência de conclusão do doutorado em
“amadurecimento octogenário”, optei por novo estilo de vida. Não são
mudanças bruscas e sensíveis. São coisas mais vinculadas à cabeça, e que
não impõem ao corpo solavancos traumáticos. Tampouco abalam formas de
relacionamento e interações pessoais.
Então, alguém perguntará, com natural curiosidade: “Que mudança é essa, que quase não muda?”
Reconheço que a percepção, para quem está de fora, é de difícil
identificação e pouco perceptível, Pois, como disse, está dentro da
cabeça. Vou dar algumas dicas exemplificativas.
- Meditação:
Incluí na minha rotina. Deixo a máquina do tempo ligada, para trás e
para frente, com algumas paradas no presente. Tenho mais filmes, pra
fazer o meu streaming próprio, do que a Netflix, Telecine e HBO juntas. Alguns leves e infantis, como desenho animado. Outros, ficção e futurologia. Poucos, da pesada. Corta!
- Indignação:
Aliviei a barra. Não dá mais pra ser palmatória do mundo. Tenho
opiniões, mas sem fanatismo ideológico e certezas absolutas. Consertar o
Brasil? Não dá mais! Ainda vamos perder muito tempo – que não tenho –
com a velha alternância, instável e repetitiva, de “um ajuizado” seguido
de “três malucos”. Em meio a um mundo que, também, não é lá essas
coisas todas.
- Morte:
De possibilidade meio lotérica, passou a certeza. Convivo com ela à
minha porta. Ela sabe que não é bem-vinda, mas nos respeitamos. Já
perdeu algumas boas “paradas” comigo, mas sei que ela é persistente e
não desiste. Conforta saber que ninguém venceu a batalha final. É a
vitória dos perdedores.
E a pandemia do Corona Virus?!
Como muitas outras, vai passar. Em mortes, essa é pequena e seletiva.
Em estragos socioeconômicos, é enorme. Exageram os que pensam, e
proclamam, que “nada será como antes”. Acho que depois as coisas vão se
acomodando. O vírus não mudou os humanos, e como os humanos são
racionais, vão aproveitar as boas práticas, do que a Ciência aprendeu,
para desmoralizar os ignorantes de todas as índoles, e confortar os
esperançosos na fé. E assim a barca prossegue, até o próximo dilúvio.
Nessa minha nova fase,
à margem de uma proveitosa pesquisa de cultura inútil, para ilustrar o
passatempo de uma busca genealógica, cheguei a uma conclusão engraçada: É
frustrante a procura de conhecimento de “meus” ancestrais. E isso se
aplica a todos nós, com exceção, provavelmente, da rainha da Inglaterra.
Vejamos:
Nascido em 1931, e considerando uma média teórica de 25 anos para cada
geração consecutivamente precedente, estimo que tive 2 pais(alguém
duvida?) 4 avós, 8 bisavós e, na retroatividade até o ano de 1500 – onde
parei – chego a contar, em linha direta, cerca de 130.000(cento e
trinta mil!) parentes ancestrais que, em bom português, chamaria
afetuosamente de hexadecavós, na 16ª geração.
Pra quem não está mais interessado
em se envolver com coisas supostamente sérias, a partir dessa
constatação, podemos, em família, animar uma inconsequente conversa,
tentando identificar nossos mais próximos ancestrais. Imaginando que,
dentre aqueles 130 mil ancestrais, podemos ter tido um que era primo de
Pero Vaz de Caminha, acasalado com uma bela índia, nativa da
recém-descoberta Terra de Stª. Cruz; ou um friorento soldado de
Napoleão, no aconchego de uma cortezã do Império russo ou, ainda, mais
recentemente, um judeu safardita, vagando pelos sertões nordestinos, com
sua companheira, aí pelos anos do século XVIII.
Diante dessa infinitude e incerteza
de tão longínquas linhagens, parece pouco significativa e, até,
duvidosa a carga de sobrenomes familiares, que se perdem confusos, na
distância de gerações passadas. Seria eu um Smith, Gonzalez, Caramuru, Nakamoto, Bolsonaro?! Quando muito, ficar pela 5ª. ou 6ª. gerações, lá pelos anos 1700-1800, já será um grande conforto saber que sou Pereira Timótheo Baptista Leite Palitot Jacome Arruda. Mais do que isso, só destrinchando o DNA.
Jaboatão dos Guararapes(PE),4/4/21
TABELA ELABORADA PELO AUTOR