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quarta-feira, 23 de julho de 2025

O VOTO DO CABELUDO CONTRA O CARECA

Irmão, é longo mas vale a pena ler para entender o momento STF.

Voto de Fux e  início do fim do império alexandrino.


Na penumbra dos minutos finais de uma segunda-feira qualquer, às 23h50, o ministro Luiz Fux protagonizou o que pode vir a ser lembrado como o momento em que o castelo de cartas começou a ruir. Seu voto divergente contra as medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro não é apenas uma discordância técnica – é o primeiro tiro de um motim silencioso que se gestava nos corredores de mármore do Supremo Tribunal Federal.

O Significado

Para compreender a magnitude deste momento, é preciso entender que o STF, sob a batuta autocrática de Alexandre de Moraes, transformou-se numa espécie de politburo tropical onde divergências não eram apenas mal vistas – eram impensáveis. A unanimidade fabricada era o selo de qualidade das decisões monocráticas travestidas de colegiadas. Fux quebrou o encanto.

O timing cirúrgico – aos 45 minutos do segundo tempo, como se diz no futebol – revela um cálculo político refinado. Fux esperou até o último momento possível, maximizando o impacto midiático e minimizando o tempo de reação da máquina de assassinato de reputações que o establishment judicial mobiliza contra dissidentes.

A Linguagem

O voto de cinco páginas é uma obra-prima de contenção e precisão. Ao afirmar que não se vislumbra "a demonstração contemporânea, concreta, individualizada dos requisitos que legalmente autorizam a imposição dessas cautelares", Fux está dizendo, em juridiquês educado, que o imperador está nu. Moraes agiu sem base legal, sem provas, sem necessidade – movido apenas pela sanha persecutória que tomou conta de seu gabinete.

A menção à "desproporcionalidade" das medidas é particularmente devastadora. No direito, proporcionalidade não é mera preferência estética – é princípio constitucional. Ao invocar este conceito, Fux está acusando Moraes de violar a própria Constituição que jurou defender.

A RealPolitik

A coincidência de Fux ser um dos poucos ministros com visto americano preservado não pode ser ignorada. Enquanto seus colegas togados estão persona non grata no território americano, Fux mantém sua capacidade de "ver o Mickey", como ironicamente se comenta nos bastidores. Esta preservação seletiva não é acidental – é um recado claro de Washington sobre quem ainda pode ser salvo do naufrágio iminente.

O ministro, jurista respeitado internacionalmente, certamente calculou que o custo de continuar embarcado no delírio autoritário de Moraes superava em muito os benefícios da solidariedade corporativa. Entre a toga e o bom senso, escolheu o segundo.

O Déspota

O comportamento cada vez mais errático de Moraes – impondo tornozeleiras eletrônicas a ex-presidentes, criando crimes imaginários, conduzindo inquéritos eternos sem objeto definido – revela um homem que perdeu completamente o senso de medida. Como todo autocrata em declínio, responde ao questionamento de sua autoridade com mais autoritarismo, numa espiral descendente que só pode terminar em desastre.

O voto divergente de Fux é devastador precisamente porque quebra a narrativa de unanimidade que Moraes cultivava obsessivamente. Sem o manto da colegialidade unânime, suas decisões ficam expostas pelo que realmente são: atos de vontade pessoal, caprichos de um juiz que se julga acima da lei.

As Rachaduras

Este voto solitário tem o potencial de ser o catalisador de uma reação em cadeia. Outros ministros, observando que é possível divergir sem ser imediatamente destruído, podem encontrar coragem para também expressar suas reservas. O medo, principal instrumento de controle de Moraes sobre seus pares, perde força quando alguém ousa desafiá-lo publicamente.

É significativo que Fux tenha escolhido fazê-lo num caso envolvendo Bolsonaro. A mensagem subliminar é clara: a perseguição judicial ao ex-presidente ultrapassou todos os limites do razoável, transformando-se numa vendeta pessoal que compromete a credibilidade de toda a Corte.

O Dilema

Os outros ministros agora enfrentam um dilema shakespeariano. Continuar seguindo Moraes em sua cruzada significa amarrar seus destinos ao de um capitão que claramente perdeu o rumo. Mas divergir significa enfrentar a fúria de um homem que demonstrou não ter escrúpulos em usar todo o aparato estatal contra seus inimigos.O cálculo de custo-benefício, porém, está mudando rapidamente. Com as sanções americanas se aproximando, com o isolamento internacional do Brasil se aprofundando, com a economia em rota de colapso, o preço de continuar apoiando o status quo pode em breve superar o custo de rompê-lo.

As Implicações

Juridicamente, o voto abre possibilidades interessantes. A divergência na turma pode permitir que a defesa de Bolsonaro leve a questão ao plenário, onde o constrangimento de apoiar publicamente medidas claramente abusivas seria muito maior. É uma coisa votar no escurinho do plenário virtual, outra bem diferente é defender o indefensável diante das câmeras.

Mais importante ainda: o voto cria jurisprudência. Futuros questionamentos às decisões de Moraes poderão citar o próprio Fux como autoridade para argumentar desproporcionalidade e falta de fundamentação legal.

O Pânico

A reação histérica da mídia alinhada ao regime é reveladora.

O esforço desesperado para minimizar a importância do voto – "não muda nada", "continua 4 a 1" – trai o pânico de quem percebe que o edifício começou a ranger. Quando a unanimidade fabricada se quebra, o que mais pode ruir?

Os colunistas de plantão, os "especialistas" de sempre, trabalharão horas extras para construir narrativas que expliquem por que um ministro do STF divergir de outro é, na verdade, um ataque à democracia. O contorcionismo retórico promete ser espetacular.

O Precedente

Historicamente, regimes autoritários começam a ruir quando surgem as primeiras fissuras na elite dirigente. Foi assim na queda do Muro de Berlim, foi assim no fim da União Soviética, foi assim em todos os momentos em que o monólito do poder começou a se fragmentar.

O voto de Fux pode não derrubar imediatamente as cautelares contra Bolsonaro, mas plantou uma semente de dúvida que tende a germinar. Outros ministros, outros juízes, outros atores do sistema podem começar a questionar: vale a pena continuar seguindo um líder que claramente perdeu o contato com a realidade?

O Futuro

As próximas semanas serão cruciais. Moraes certamente tentará retaliar, usando suas ferramentas usuais de intimidação e pressão. Mas Fux calculou bem: com a atenção internacional voltada para o Brasil, com as sanções americanas pendentes, qualquer movimento muito agressivo contra um ministro dissidente apenas confirmaria as acusações de autoritarismo.

O mais provável é que vejamos uma escalada na retórica, tentativas de isolar Fux, campanhas de difamação nos bastidores. Mas o gênio já saiu da lâmpada. A possibilidade de divergir foi demonstrada.

O Princípio do Fim

O voto solitário de Luiz Fux pode parecer insignificante no grande esquema das coisas – afinal, Bolsonaro continua com tornozeleira eletrônica, continua sendo perseguido, continua sofrendo lawfare. Mas às vezes a história gira em torno de gestos aparentemente pequenos.

Rosa Parks se recusando a ceder seu assento no ônibus. Um estudante solitário diante dos tanques na Praça da Paz Celestial. Um ministro do STF ousando dizer "não" a Alexandre de Moraes.O império de medo construído por Moraes depende fundamentalmente da ilusão de invencibilidade. Uma vez que essa ilusão se quebra, uma vez que fica claro que é possível divergir e sobreviver, o castelo de cartas começa a balançar.

Fux pode ter votado sozinho desta vez. Mas na próxima, talvez não esteja mais tão solitário. E quando os ratos começam a abandonar o navio, é sinal de que o naufrágio se aproxima.

Alexandre de Moraes, o homem que se julgava o salvador da democracia brasileira, pode ter acabado de descobrir que até os déspotas mais poderosos são, no fim das contas, mortais. E sua mortalidade política acaba de ser exposta por cinco páginas de juridiquês educado.

O relógio está correndo. E desta vez, não é a favor do ministro que transformou o STF em seu feudo pessoal.

                           MINISTRO LUIZ FUX DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

5 comentários:

claudio disse...

Sonha marcelino.

Anônimo disse...

… Bevilaqua deve estar orgulhoso.

Por acaso Fuchs é o único JUIZ dentre os 9 que o Messias não nomeou???
Sendo assim, os 9 Ministros não previamente Togados se assemelham à figura dos não menos eficientes “presos de confiança” ou “delegados calça-curta” que atuam com extrema dedicação para suprir sua condição de não “diplomados”.
ESTES, no trato com o povo, são mais dignos que AQUELES que foram escolhidos para NÃO seguir o rigor da lei.

João. disse...

A recente manifestação do ministro Luiz Fux, ao divergir das medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, marca um ponto de inflexão importante no atual cenário do Supremo Tribunal Federal. Não se trata apenas de um voto técnico, mas de um gesto que ressoa nos bastidores da Corte, indicando que há fissuras no consenso que, até então, parecia inabalável.

Como bem disse o ministro aposentado Marco Aurélio Mello, "como cidadão, eu não gostaria de ser julgado pelo Supremo hoje". A frase, contundente, reflete o desgaste crescente da imagem da instituição, que deveria ser o pilar da legalidade e da estabilidade constitucional, mas que, na percepção de muitos, vem se afastando dos parâmetros estabelecidos pela própria Constituição Federal.

A crítica de Fux, ao apontar a ausência de contemporaneidade e proporcionalidade nas medidas impostas, não apenas desafia a narrativa de unanimidade que prevalecia, mas também reabre o espaço do contraditório dentro da Corte – algo essencial para qualquer ambiente jurídico saudável.

A dissidência do ministro, além de ser juridicamente relevante, possui implicações práticas: casos semelhantes poderão ser levados ao Plenário, onde a exposição pública e a necessidade de fundamentação robusta dificultam a perpetuação de decisões baseadas exclusivamente na vontade individual de um relator.

O momento exige prudência, mas também coragem. O STF, como guardião da Constituição, deve zelar pela legalidade com serenidade, e não por impulsos autoritários ou excessos personalistas. O Estado de Direito não admite exceções seletivas, nem perseguições disfarçadas de zelo institucional. Pelo menos é o que espero, que acordem os ministros do Supremo que estão lá para defender a Constituição, fazer com que os interesses individuais e coletivos sejam respeitados dentro das quatro linhas e não ná vontade autoritária de alguns Ministros nomeados.

A esperança é que este voto marque o início de uma retomada do equilíbrio, do respeito aos princípios constitucionais e da restauração da credibilidade da mais alta Corte do país. Porque quando um tribunal deixa de inspirar confiança, a democracia é quem perde

ADMY disse...

Quem é o Xandão da Previ?
ES com mais de 10 prestações pagas que antes era renovado a cada 6 meses, está sendo impedido de renovar. Por causa de quê?

Anônimo disse...

Sobre a Reintegração do Aucilio…
Não sonho
Nem tenho Direito
Nunca incorporei no BD1
Não fiz Ação para isso.

Apenas, como sempre nós 29,61 anos de BB
Sempre coloquei tudo e todos os COLEGAS e CLIENTES na frente da fila.
Aprendi com a BÍBLIA em 3 palavras:
HONRARÁS PAI e MÃE
… Eles viveram exclusivamente para 10 Filhos.