Como um vírus chinês e políticos autoritários deixaram o mundo inteiro vulnerável a verdadeiras tragédias.
Gracian Li Pereira
Especial para o BSM
16 de dezembro de 2019
O primeiro paciente é internado. O caso de pneumonia sem diagnóstico
faz os médicos enviarem material coletado do pulmão para que uma empresa
especializada em sequenciamento genético analise.
27 de dezembro de 2019.
Após atender 3 pacientes com os mesmos sintomas com imagem de vidro
fosco na tomografia de tórax, Zhang Jixian +avisa a direção do hospital
sobre uma nova doença viral. O médico atua no Hospital de Medicina
Integrada Chinesa e Tradicional da Provícia de Hubei em Wuhan, China, e
tratara pacientes que sofreram de SARS-Cov-1 em 2003.
Nesse mesmo dia, o Hospital Central de Wuhan recebe uma mensagem da empresa sobre a análise do material: é um novo coronavírus.
31 de dezembro de 2019.
O mercado de peixe de Wuhan é desinfectado. A OMS foi oficialmente informada.
27 casos: 7 graves e 2 recuperados.
Assim foi o primeiro mês da doença, que agora já rodou o globo com
6,5 milhões de pessoas infectadas e quase 400 mil óbitos. Estima-se que o
número de infectados chegue a 5 vezes mais, pois 80 a 90% dos pacientes
são assintomáticos ou têm poucos sintomas e não buscam o sistema de
saúde ou não são testados. A América foi a última parada do coronavírus,
batizado de covid-19, e os países do continente estão começando a
descendente da curva de novos casos. Pelo que se percebe, foi apenas um
pouco pior que as estimativas da gripe suína (H1N1) de 2009.
Oficialmente, o H1N1 matou 18 mil pessoas testadas, porém o número real
calculado pela OMS ficou entre 150 e 600 mil.
As medidas adotadas pela China para evitar a circulação de casos a
partir de janeiro foram extremas: violações aos direitos humanos, como
soldagem das portas das casas das pessoas e condução por força de casos
suspeitos aos hospitais, nos quais praticamente nenhum suporte era dado.
Qualquer um que saiba como funciona uma ditadura comunista pode
imaginar o que aconteceu. Mas, apesar de não poderem circular dentro de
seu país, os aeroportos de Wuhan, uma cidade de 11 milhões de habitantes
(pouco menor que São Paulo), e do resto da China permaneceram abertos
para quem quisesse espalhar o vírus para o exterior.
E foi o que aconteceu.
Enquanto o vírus se espalhava pelos países próximos, a desinformação
do governo chinês e as “trapalhadas” da OMS retardaram as medidas
cabíveis no resto do mundo. Uma das maiores confusões ocorreu com a
informação sobre transmissibilidade do vírus: apesar de ser uma
pneumonia e já ter havido uma SARS-Cov-1, a OMS replicou o governo
chinês em 14 de janeiro, pela sua conta no Twitter, dizendo que o vírus
não passava de humano para humano. Seis dias depois, retratou-se
afirmando então que era MUITO CLARO que ocorria transmissão direta entre
humanos.
Outro atraso da OMS consistiu na declaração da doença como Emergência
de Saúde Pública de Interesse Internacional. Na reunião de 23 de
janeiro, não houve consenso sobre o tema, mesmo com 10 países reportando
casos. A reunião seguinte ocorreu apenas uma semana depois, quando mais
que o dobro de países e já em outros continentes haviam detectado
infectados pelo novo vírus. Quantas vidas poderiam ter sido poupadas sem
esses atrasos? Nunca saberemos.
Janeiro terminou com mais de 10 mil casos e mais de 250 mortes.
As medidas mais sérias começaram apenas em início de fevereiro, como o
fechamento de fronteiras aéreas e quarentena de viajantes. Considerando
que a maioria das pessoas são pouco sintomáticas e que o primeiro caso
especula-se haver surgido na segunda quinzena de novembro, o coronavírus
já circulava nos 5 continentes a essa altura, tornando essas medidas
quase sem efeito.
Na Itália, um dos países que mais sofreu com a doença, os primeiros
casos foram de um casal de chineses que passeou pelo norte do país no
final de janeiro e adoeceu ao chegar em Roma no dia 31. Quatro meses
depois, a Itália já tem mais de 33 mil mortes atribuídas ao covid-19,
sendo a grande maioria na Lombardia. Estatisticamente, o valor não é
muito quando distribuído nas normais 50 mil mortes por mês. Porém, se as
fronteiras aéreas com a China já estivessem fechadas no final de
dezembro ou início de janeiro, talvez parte significativa dessas mortes
pudesse ter sido evitada. No entanto, o prefeito de Firenze logo no
início de fevereiro lançou uma hashtag contra o racismo e o terrorismo
psicológico chamada “Abrace um chinês”. A doença estava oficialmente
politizada.
No Brasil, o Governo Federal declarou situação de emergência no
Diário Oficial da União no dia 6 de fevereiro. No entanto, nenhum evento
com aglomeração foi cancelado e nem viajantes que vinham de fora do
país foram colocados em quarentena. Hoje, sabemos que 55% dos casos de
coronavírus no Brasil até o início de março tiveram origem na Itália e
foram trazidos por brasileiros que viajaram para lá em fevereiro, mês de
férias por aqui. E, após voltarem de viagem, também participaram da
maior festa popular da Terra: o Carnaval brasileiro. Isso sem que
autoridades se importassem com a doença que, à altura, já contava mais
de 80 mil casos pelo mundo e mais de 2.700 mortes. Na Quarta-feira de
Cinzas, o primeiro caso no Brasil seria confirmado. O Carnaval foi mesmo
contagiante esse ano...
Lembro de ter ido com uma amiga a uma farmácia dia 28 de janeiro
comprar máscaras e álcool em gel. Pareceu-me um tanto exagerado aquilo:
mesmo em epidemias de influenza, como 2009, 2012/13 e 2016, jamais nos
foi orientado usá-las fora do ambiente hospitalar. Lembro-me das medidas
tomadas em todas elas, como isolamento de casos doentes, cuidados de
higiene, evitar lugares fechados com muitas pessoas, maiores cuidados
com grupos de risco, coisas do gênero, mas nunca foi orientação fazer
quarentena de saudáveis. As informações desencontradas e rápido
aparecimento de sintomáticos de uma doença que os chineses já haviam
carregado para fora do país durante janeiro inteiro e que brasileiros
inadvertidamente trouxeram da Itália e de outros lugares durante o mês
de fevereiro foi transformada pela mídia na nova Gripe Espanhola. Não
obstante a real necessidade de prevenção de contágio e preparação dos
sistemas nacionais de saúde para lidar com os doentes, houve uma
histeria que se espalhou como rastilho de pólvora. A situação de países
completamente diferentes do nosso, aliada a autodenominados cientistas
que não sabem fazer contas, além de interesses escusos que ainda estão
sendo descobertos, fizeram surgir “informações” veiculadas durante 24
horas de programação televisiva de uma hecatombe sem tamanho, em que um
milhão de pessoas poderiam morrer no país (sendo que nenhum lugar teve
essa quantidade proporcional de óbitos) caso não seguíssemos o celebrado
novo modelo chinês de restrição da doença: prisão dos indivíduos em
suas casas, fechamento dos comércios “não-essenciais”, proibição de
aglomerações de até mesmo 10 pessoas e outras normas absurdas que
variaram de país para país, conforme a sanha autoritária de seus
governantes.
A maioria dos Estados brasileiros começou a seguir a orientação da
OMS e imitar a ditadura chinesa aplicando um lockdown horizontal a
partir de meados de março, isso depois de não se importarem com as
aglomerações promovidas durante o mês inteiro de carnaval, chamando a
resolução de “seguir a ciência”.
Iniciou-se um embate. Jamais essa medida havia sido utilizada numa
epidemia com mortalidade baixa e com população de risco bem definida
desde o início. E o que era para durar duas semanas começou a se
arrastar semana a semana. Nos países que adotaram a medida, a curva do
vírus não se alterou, com o número de casos disparando, mas a histeria
era tamanha que poucas pessoas se arriscavam a contrariá-la.
Nos últimos dez dias de março, vários governos anunciaram o uso de
cloroquina ou hidroxicloroquina para tratamento das pessoas com
coronavírus. A terapia já estava sendo estudada desde o primeiro surto
em 2002/3, mas não havia sido testada por falta de casos. Grupos
franceses e indianos viam a melhora clínica dos pacientes assim que
começavam a usar a medicação e pesquisas começaram a ser produzidas.
O presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, assim como o
presidente brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, anunciaram que
investiriam nesse medicamento barato, sem patente, conhecido pelos
médicos há 70 anos e que era comprado sem receita até então. Porém, não
havia interesse que a nova doença tivesse uma terapia tão barata e
fácil. Alguns médicos e pesquisadores levantaram-se contra o uso da
medicação alegando efeitos adversos graves, mesmo que apenas vistos com
doses tóxicas, as quais são bem conhecidas. As pesquisas continuaram com
indícios de eficácia, mas sem nenhuma resposta definitiva.
A Prevent Senior, plano de saúde basicamente voltada para idosos,
grupo de maior risco de morte por coronavírus, confirmou a diminuição de
óbitos e risco de internação em UTI com o uso de hidroxicloroquina e
azitromicina precoce em seus pacientes. A rede privada do país começou a
oferecer o tratamento, porém, no SUS, o povo continuou a ser tratado
apenas com medicamentos sintomáticos.
Abril começa com quase 7 mil casos diagnosticados no Brasil e mais de
240 mortes. Isso mesmo depois de 14 dias de quarentena da população.
Esperava-se, como em todo lugar, que os casos novos diminuíssem, pois,
considerando o período de incubação da doença, após 14 dias os casos que
porventura aparecessem seriam de dentro da quarentena. Como em todo
lugar, no entanto, a curva de casos e óbitos começou a subir depois que
as quarentenas foram decretadas pela maior capacidade de infecção do
vírus ser em pessoas que convivem mais intimamente.
Em 15 de abril, um mês depois da decretação de lockdown horizontal na
maioria dos estados, tinha-se mais de quatro vezes o número de casos do
dia primeiro (28.610) e sete vezes mais mortes (1.757).
Por volta do dia 8 de abril, em uma live, calculei que, ao contrário
do que estavam dizendo, provavelmente teríamos entre 40-60 mil mortos
independente de quarentena. Tomei por base o que estava acontecendo na
Europa. E que não faríamos um pico de óbitos tão íngreme, uma vez que o
país é muito grande e a doença chegaria em tempos diferentes em cada
lugar. Mas nossos governadores e prefeitos tinham outras informações.
O povo, um mês sem trabalhar e sem ver os resultados dessa quarentena
maluca, começou a pressionar. O governo federal cobrou do Ministro da
Saúde, Luiz Henrique Mandetta, posicionamento contra o lockdown
horizontal. Os governadores não queriam obedecer mesmo vendo seus
estados quebrarem, dizendo que estavam seguindo a “ciência” que, na
realidade, nunca deu respaldo a esse tipo de atitude.
Então, no dia 16, ocorreu um verdadeiro golpe orquestrado por um
grupo de governadores e com o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo
Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre: a suprema corte decidiu que o
governo federal não teria mais qualquer poder para lidar com a epidemia,
cabendo a estados e municípios escolher como lidar com ela. A conta,
porém, deveria ser paga pelo governo federal.
O ministro foi demitido. Assumiu Nelson Teich.
A epidemia, então, estava oficialmente instrumentalizada no país,
tanto politicamente quanto judicialmente, com governadores e prefeitos
mantendo medidas draconianas que não estavam surtindo efeito.
Especificamente, o único efeito foi gerar desempregos e aumentar o
número de suicídios. Ao mesmo tempo, a suprema corte revertia qualquer
decisão dos governadores e prefeitos caso fossem favoráveis à abertura
do comércio, mesmo tendo dado a esses mesmos governadores e prefeitos a
última palavra antes.
Abril terminou com a OMS dizendo que jamais havia orientado lockdown
horizontal e que o modelo sueco – que sequer fechou as escolas – era o
exemplo a ser seguido para lidar com a epidemia. Os governadores, amigos
da “ciência” e da OMS, nunca mais citaram que estavam seguindo a razão
científica a partir daí, mas mantiveram o isolamento total.
O Brasil tinha já 92 mil casos e quase 6 mil mortes.
A luta para o estabelecimento de uma terapia continuou em maio. Ao
mesmo tempo, aconteceram as primeiras movimentações da Polícia Federal
para pegar os corruptos do Covidão, apelido das forças tarefas
investigando fraudes em contratos e superfaturamento de equipamentos que
deveriam ser usados para atender a população durante a epidemia.
O atraso na deflagração das diligências da polícia passa pela crise
que também aconteceu no final de abril: a renúncia do ex-juiz e então
Ministro da Justiça, Sérgio Moro. O mesmo ficara famoso por levar
adiante a Lava Jato e prender o bandido-mor da nação: o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que, como quase todos os demais presos na
operação, encontra-se livre depois que o Supremo Tribunal Federal mudou o
entendimento sobre prisão em segunda instância.
Vários governadores e prefeitos estão implicados. O povo vê o
dinheiro, que seria usado para salvar vidas, indo para a conta de
empresas chinesas, que não entregaram seus produtos, ou empresas
brasileiras laranjas de políticos. Trata-se de um verdadeiro crime
contra a vida da população.
Na imprensa oficial, o único a ser chamado de genocida é o
presidente, que insiste em colocar a cloroquina ao alcance das pessoas
no SUS. Sua defesa do tratamento faz com que mais um ministro da Saúde
saía e Teich renuncia após um mês no cargo. Dessa vez, o interino
ficaria definitivamente: o general Pazuello, que não tem formação
médica, mas resolveu a celeuma e orientou, no dia 20 de maio, o uso da
cloroquina para a fase mais eficaz da terapia: as primeiras 72 horas de
sintomas.
Com a chegada de testes no início de maio, mais casos foram
diagnosticados, inflando as estatísticas e diminuindo a gravidade. O
número de exames positivos para óbitos anteriores aumentou a cada dia,
chegando a números superiores a mil, mas a imprensa nunca explicou que
esses óbitos jamais haviam ocorrido em um único dia.
Hospitais de campanha jamais utilizados começaram a ser desmontados.
Ao mesmo tempo, leitos provisórios de UTI de isolamento respiratório
diminuíram em hospitais privados, que enfrentaram a primeira onda – pois
a doença foi importada pelos que tiveram poder aquisitivo para viajar
ao exterior. No SUS, houve estabilidade na maior parte dos lugares,
exceto nos que a saúde sempre fora um caos: como Amazonas, Pará e o
nordeste brasileiro.
E o país pareceu entrar na descendente da curva de casos novos e óbitos diários.
Maio termina com 515 mil casos e 29 mil óbitos, com a maioria dos
estados em lockdown horizontal já há 75 dias, dois meses a mais do que
era inicialmente programado. Os resultados: muito desemprego, muitos
suicídios, aumento na criminalidade, aumento da pobreza e aumento nas
outras doenças. A ação foi eficiente na contenção do novo vírus?
Provavelmente, não.
A mídia aterrorizou tanto a população que ela está preferindo morrer
em casa de uma doença que ela já tem e é real do que ir ao hospital e
arriscar pegar uma doença que é uma “gripezinha” em 80 a 90% dos casos,
principalmente em pessoas com menos de 50 anos, o que corresponde a
quase 75% da população brasileira. Uma doença que é menos mortal que a
gripe sazonal.
Mortes por câncer que poderiam ser operados e curados nesse tempo,
mas que agora só aparecerão tarde demais no hospital não serão cobradas
de jornalistas, governadores e prefeitos. As mortes, em decorrência da
irresponsabilidade desses agentes, serão muito mais numerosas que as 40 a
60 mil pessoas do coronavírus. Contudo, elas serão silenciosas. Não
constará em seus atestados de óbito ‘morte por irresponsabilidade da
mídia/governador/prefeito’, como já não constam os óbitos por
coronavírus que poderiam ser evitados com o uso da medicação que
funcionou na rede privada mas foi negada aos pobres do SUS, ou pela
ausência de leitos e equipamentos cujo dinheiro enviado pelo governo
federal foi roubado para outros fins.
Por fim, deixo o gráfico de óbitos diários por dia do óbito e não da
confirmação do exame, disponível no portal da transparência do registro
civil. Desconsiderem os últimos 15 dias, pois o atraso no registro pode
alterar os números. Ainda assim, nunca passamos de 1.000 óbitos por
coronavírus num mesmo dia. Observem que estamos num platô, entrando na
descendente. A pior parte da epidemia já passou, como atestado pelo
silêncio da mídia nas aglomerações de vândalos que saíram para quebrar
algumas cidades nesse final de semana. Parece que só as manifestações
“antidemocráticas” de quem usa camiseta verde-e-amarela espalham o
vírus. Os “democratas” que quebram cidades e agridem pessoas são imunes.

Talvez, o principal “óbito” dessa pandemia foi a confiabilidade da
própria ciência, que mostrou o quanto está ideologizada: medidas sem
respaldo científico algum, nunca antes utilizadas contra um vírus
estudado desde 2002; contas de redes sociais canceladas se alguém
ousasse fazer perguntas que contrariassem as “informações” da OMS ou da
China; orientações contraditórias da mesma OMS com dias de diferença,
plantando o caos na população amedrontada pela mídia; estudos com bancos
de dados fraudulentos em revista científica considerada séria cujo
editor faz loas ao marxismo e considera abertamente o coronavírus um
meio de narrativa para reengenharia social.
Porém, esses mesmos profissionais da saúde decretaram o final da
epidemia com suas ações ao tentarem parar uma carreata pelo fim da
quarentena na rua, chamando os participantes de egoístas e genocidas,
mas aplaudindo, duas semanas depois, a aglomeração de pessoas fora de
carros que saíram para vandalizar, saquear e praticar violência contra
quem quer que fosse. A narrativa é a “ciência” que eles seguem. Nunca
estiveram preocupados com a saúde ou o bem da população. Está na hora de
acordar e reverter tudo o que a histeria deixou que acontecesse diante
dos nossos olhos.
- Gracian Li Pereira é médica anestesiologista e mestre em Epidemiologia pela UFRGS.
Fonte: https://brasilsemmedo.com/coronavirus-a-historia-de-uma-experiencia-politica-desastrosa/