O VIRUS POP STAR
Aristophanes Pereira
São incontáveis os relatos sobre terriveis doenças que afligiram os seres humanos, neste seu habitat terreno. Nos tempos a.C., já eram assustadores os condenados pela lepra(hanseníase). Na Idade Média, pragas como a Peste Negra, dizimaram boa parte de populações euroasiáticas. E, até meados do século passado, doenças, ainda não controladas, como gripe, tuberculose, varíola, sarampo, malária, tifo e outras febres, apavoravam países e populações.
Ainda bem perto, no tempo, lembramos que a famosa Gripe Espanhola – que, diferentemente do nome, começou nos Estados Unidos, em 1918, no final da I Guerra Mundial – matou dezenas de milhões de pessoas, em todo o mundo, inclusive o presidente brasileiro Rodrigues Alves(1848-1919), mudando a história do Brasil.
Mas, onde quero chegar, com essa dissertação de estilo “ENEM”, sobre epidemias, pandemias e endemias? Ora! Quero fazer um contraponto, para denunciar uma curiosidade que me assola a cabeça. Já estou ficando saturado e maltratado, por essa avalanche midiática, em torno da doença do novo corona vírus, batizado de Covid-19(de Corona Vírus Disease 2019).
Passados os primeiros momentos de necessárias informações, não entendo porque se tem dado tão grandiosa e alarmante dimensão – sem precedentes – de contornos sociais, sanitários e econômicos, a uma doença que tem seu perfil científico bastante identificado, conhecidos meios de propagação e previsíveis instrumentos de controle. Estamos longe dos tempos da Peste Negra, quando a ignorância matou os gatos, poupando os ratos, verdadeiros disseminadores da doença, como hospedeiros das malignas pulgas.
Em passado recente, dois outros corona vírus, “primos” do Covid-19, batizados na literatura médica como SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome-2002) e MERS (Middle East Respiratory Syndrome-2012), com características de contágio e disseminação elevados e alta letalidade, ocasionaram muita preocupação, mas sem o alarde, que agora se faz, do jovem “parente” recém chegado.
Como é sabido, a doença começou na China, há cerca de 4 ou 5 meses, cercada por características curiosas:
parece ter passado de animais silvestres para humanos; espalhou-se,
rápida e sutilmente, entre habitantes da cidade-província de Wuhan; o médico chinês que primeiro alertou sobre a eclosão da nova doença – Dr. Li Wenliang de 34 anos – foi censurado pelo Governo e caiu em desgraça, por sua inconfidência cientifica. Pouco tempo depois, morreu, vitimado pela doença que denunciou, apesar de jovem e classificado em faixa etária de baixo risco...
De lá para cá, conhecemos a avalanche de fatos relacionados com o novo corona vírus que, diga-se de passagem, tem um lindo design furta-cor(vide abaixo).
A China, usina incansável de trabalho, parou e submeteu milhões a
quarentenas(sic) de 15 dias, enquanto mostrava ao mundo sua capacidade
de construir gigantescos hospitais, em apenas 10 dias. O planeta inteiro,
em assustada escalada, apavorou-se, suspendeu viagens e intercâmbios,
cancelou voos e desviou navios. Museus, escolas, igrejas e teatros
fecharam, e jogos empolgantes foram postergados. Países ricos, entre os
quais o Brasil, montaram, rapidamente, heroicas expedições aéreas
transcontinentais, para resgatar grupos selecionados de patrícios,
supostamente ameaçados, em quarentenas chinesas. Nada de juntar gentes,
potenciais transmissores da doença. Aprendemos novas formas de lavar as
mãos e jeitos protegidos de tossir e espirrar. Máscaras protetoras
cobrem milhões de rostos medrosos. Verdadeiras patrulhas médico-sanitárias rastreiam
a vida de suspeitos e seus contatos. Já sugerem, até, substituir o
tradicional aperto-de-mão por um delicado toque-de-pés.
Esse ambiente de terror-do-bem
feriu economias de empresas e de países, mundo afora, derrubou bolsas,
reduziu juros, desvalorizou moedas e empurrou pra baixo PIBs
trilionários, distorcendo a percepção de outras assombrosas realidades de nosso dia-a-dia:
em 13 dias do intolerável e ilegal motim de policiais cearenses, 225
pessoas foram mortas; dados do Conselho Federal de Medicina registram
uma média de 5 mortes, por hora, no Brasil, por acidentes de trânsito; a
popular e manjada dengue levou pra cama, em 2019, mais de 1,5 milhão
de brasileiros e matou mais de 700. A velha e conhecida
gripe(influenza), para a qual existem vacinas atualizadas, continua a
infestar, em surtos sazonais, cerca
de 5% a 15% de populações, resultando em aproximadamente 3 a 5 milhões
de casos graves e em 250 a 500 mil mortes no mundo, por ano.
O momento do Covid-19 requer calma e sensatez, sem pânico e alvoroço, como tem sido o tom moderado da OMC. Por que dar status desproporcional de “pop star” a esse vírus de 3ª categoria, modesto membro, recém chegado, da maldosa família Corona? Ele mesmo vai se acomodar, render-se a uma próxima vacina e conviver conosco, matando aqui e acolá, sem arruaças. Estou certo, ou será que existe alguma conspiração tenebrosa por trás dessa espetaculosa epidemia ?!
Jaboatão dos Guararapes(PE), 6/3/20