segunda-feira, 5 de abril de 2021

NOVO ESTILO

NOVO ESTILO DE VIDA

Aristophanes Pereira

         Depois de minha recente passagem para o seleto e empolgante Clube dos Nonagenários, ou “noventões”, na sequência de conclusão do doutorado em “amadurecimento octogenário”, optei por novo estilo de vida. Não são mudanças bruscas e sensíveis. São coisas mais vinculadas à cabeça, e que não impõem ao corpo solavancos traumáticos. Tampouco abalam formas de relacionamento e interações pessoais.

         Então, alguém perguntará, com natural curiosidade: “Que mudança é essa, que quase não muda?” Reconheço que a percepção, para quem está de fora, é de difícil identificação e pouco perceptível, Pois, como disse, está dentro da cabeça. Vou dar algumas dicas exemplificativas.

 

  • Meditação: Incluí na minha rotina. Deixo a máquina do tempo ligada, para trás e para frente, com algumas paradas no presente. Tenho mais filmes, pra fazer o meu streaming próprio, do que a Netflix, Telecine e HBO juntas. Alguns leves e infantis, como desenho animado. Outros, ficção e futurologia. Poucos, da pesada. Corta!
  • Indignação: Aliviei a barra. Não dá mais pra ser palmatória do mundo. Tenho opiniões, mas sem fanatismo ideológico e certezas absolutas. Consertar o Brasil? Não dá mais! Ainda vamos perder muito tempo – que não tenho – com a velha alternância, instável e repetitiva, de “um ajuizado” seguido de “três malucos”. Em meio a um mundo que, também, não é lá essas coisas todas.
  • Morte: De possibilidade meio lotérica, passou a certeza. Convivo com ela à minha porta. Ela sabe que não é bem-vinda, mas nos respeitamos. Já perdeu algumas boas “paradas” comigo, mas sei que ela é persistente e não desiste. Conforta saber que ninguém venceu a batalha final.     É a vitória dos perdedores.

 

         E a pandemia do Corona Virus?! Como muitas outras, vai passar. Em mortes, essa é pequena e seletiva. Em estragos socioeconômicos, é enorme.  Exageram os que pensam, e proclamam, que “nada será como antes”. Acho que depois as coisas vão se acomodando. O vírus não mudou os humanos, e como os humanos são racionais, vão aproveitar as boas práticas, do que a Ciência aprendeu, para desmoralizar os ignorantes de todas as índoles, e confortar os esperançosos na fé. E assim a barca prossegue, até o próximo dilúvio.

         Nessa minha nova fase, à margem de uma proveitosa pesquisa de cultura inútil, para ilustrar o passatempo de uma busca genealógica, cheguei a uma conclusão engraçada: É frustrante a procura de conhecimento de “meus” ancestrais. E isso se aplica a todos nós, com exceção, provavelmente, da rainha da Inglaterra.

         Vejamos: Nascido em 1931, e considerando uma média teórica de 25 anos para cada geração consecutivamente precedente, estimo que tive 2 pais(alguém duvida?) 4 avós, 8 bisavós e, na retroatividade até o ano de 1500 – onde parei –  chego a contar, em linha direta, cerca de 130.000(cento e trinta mil!) parentes ancestrais que, em bom português, chamaria afetuosamente de hexadecavós, na 16ª geração.

         Pra quem não está mais interessado em se envolver com coisas supostamente sérias, a partir dessa constatação, podemos, em família, animar uma inconsequente conversa, tentando identificar nossos mais próximos ancestrais. Imaginando que, dentre aqueles 130 mil ancestrais, podemos ter tido um que era primo de Pero Vaz de Caminha, acasalado com uma bela índia, nativa da recém-descoberta Terra de Stª. Cruz; ou um friorento soldado de Napoleão, no aconchego de uma cortezã do Império russo ou, ainda, mais recentemente, um judeu safardita, vagando pelos sertões nordestinos, com sua companheira, aí pelos anos do século XVIII.

         Diante dessa infinitude e incerteza de tão longínquas linhagens, parece pouco significativa e, até, duvidosa a carga de sobrenomes familiares, que se perdem confusos, na distância de gerações passadas. Seria eu um Smith, Gonzalez, Caramuru, Nakamoto, Bolsonaro?! Quando muito, ficar pela 5ª. ou 6ª. gerações, lá pelos anos 1700-1800, já será um grande conforto saber que sou Pereira Timótheo Baptista Leite Palitot Jacome Arruda. Mais do que isso, só destrinchando o DNA.

Jaboatão dos Guararapes(PE),4/4/21

                                                          TABELA ELABORADA PELO AUTOR
 

 

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