Aprendemos
que apenas 30% da população são realmente alfabetizados. O resto é analfabeto
funcional que assina o nome, mas não sabe mais nada. E isso é bom para eleições,
pois um povo ignorante é ótimo para eleger canalhas.
No
entanto, tudo tem um lado bom, nossa estupidez estimula uma criatividade
cultural de axés e garrafinhas, aumenta a fé com milhões de novos evangélicos
dando dinheiro para pregadores traficantes, estimula a boçalidade combativa,
como as emocionantes batalhas entre torcidas, shows de MMA espontâneos nas
arquibancadas. Estupidez é entretenimento. O país já virou novela de suspense. É
uma escola. Com a prisão dos mensaleiros, enxergamos que nosso sistema
penitenciário é o inferno vivo. Estupradores, chacinadores protestam contra o
conforto dos petistas. Finalmente, Zé Dirceu conheceu a luta de classes e
foi-nos útil: iluminou-nos sobre o sistema carcerário.
Vimos
como a escrotidão e o idealismo são primos. Neste ano aprendemos por exemplo que
não existe primavera, nem árabe nem brasileira. E isso é mais realista. Chefes
de Estado preferem secretamente que o Assad ganhe a guerra contra a al-Qaeda,
que já tomou conta. Menos esperança, mais sabedoria. O mundo ganhou um
pessimismo iluminado. Graças ao bravo nerd Snowden, que
revitalizou o Putin da Rússia, o líder da moda que protege a destruição da
Síria, prejudicou o Obama e abriu portas para novos ataques do terror. Ou seja,
aprendemos que tudo se ramifica em contradições inesperadas, que um bem pode
virar um mal e um hacker babaca pode mudar o
mundo.
Já
sabemos que milagres acontecem, mas são logo destruídos. Milhões se ergueram em
junho, numa aurora política aparente, mais uma “primavera”; no entanto, os black
blocks, espécie de al-Qaeda punk de imbecis, vieram nos lembrar da realidade:
estupidez e mediocridade política são a clássica realidade brasileira. Enquanto
Sarney reina, Agnelo Queiroz se agarra no Lula e Jacques Wagner destrói a Bahia,
já sabemos que os horrorizados cariocas, chocados com o grande “crime” do
helicóptero do Cabral, vão eleger a nova catástrofe: nosso estado governado por
Garotinho, Crivellla ou Lindinho. Será o fim do Estado do Rio, durante a
Olimpíada. Vivam os cariocas, as bestas quadradas do apocalipse! Pedem para ser
mortos duas vezes.
Já
sabemos também que “a infraestrutura sórdida do país foi culpa dos governos
anteriores”. Ao menos foi o que disse a Dilma diante de FHC e do Clinton (que
vexame...) depois de 11 anos do PT no poder. Só não sabemos o que o PT fez em 11
anos, mas isso é curiosidade de neoliberais canalhas, o que será corrigido com a
reeleição de Dilma, quando teremos uma regulamentação bolivariana nessa mídia
conservadora que teima em estragar os prazeres da mentira. Finalmente entendemos
que quem fez o Plano Real não foi o FHC, como afirma a mídia de direita; foi o
Lula, com preciosa ajuda de Mantega.
Já
entendemos que a Dilma é brizolista. Também já sabemos que o Brasil anda na
contramão dos próprios velhos países socialistas como China e Vietnã. Como
escreveu Baudrillard: “o comunismo hoje desintegrado tornou-se viral, capaz de
contaminar o mundo inteiro, não através da ideologia nem do seu modelo de
funcionamento, mas através do seu modelo de desfuncionamento e da
desestruturação brutal”, vide o novo eixo do mal da América Latina. Nós somos um
bom exemplo desconstrutivo do que era o comunismo.
Já
sabemos que privatização chama-se hoje concessão, que lucro ainda é crime e que
aos poucos os empreendedores que fizeram o país, antes de o PT existir, são
aceitos ainda com relutância pelos donos do poder.
Já
sabemos que nosso ministro da economia é a própria Dilma, pois o Mantega só está
lá porque ela manda nele. Por que não bota o Delfim, ou o Palocci, que já salvou
o Brasil uma vez? Ele é um dos petistas respeitáveis. O outro morreu há pouco —
Marcelo Déda, raridade, inteligente, com senso de humor e do bem.
Neste
ano, aprendemos: A Justiça não anda sozinha. Se não fossem dois grandes homens,
Ayres Brito e Joaquim Barbosa, nada teria acontecido. Aprendemos que o Mercosul
tem de acabar. Aprendemos que o Legislativo só funciona no tranco de ameaças do
povo. Agora já perderam o medo de novo.
Já
sabemos que a política tem sido um espetáculo, como um balé. No Brasil, a
política já é um país dentro de outro, com leis próprias, ética própria a que
assistimos, impotentes. Os fatos perderam a solidez — só temos expectativas. E
tudo continuará. Saberemos no ano que vem quantos campos de futebol de floresta
foram destruídos por mês nas queimadas da Amazônia, enquanto ecochatos correm
nus na Europa, fazendo ridículos protestos contra o efeito estufa; saberemos
quantos foram assassinados por dia, com secretários de segurança falando em
“forças-tarefas” diante de presídios que nem conseguem bloquear celulares,
continuaremos a ouvir vagabundos inúteis falando em “utopias”, bispos dizendo
bobagens sobre economia, acadêmicos decepcionados com os “cumpanheiros”
sindicalistas, enquanto a República continuará a ser tratada no passado, com as
nostalgias masoquistas de tortura, ressurreição de Jango e JK, heranças
malditas, ossadas do Araguaia e nenhuma reforma no Estado paralítico e
patrimonialista. Não vivemos diante de “acontecimentos,” mas só de “não
acontecimentos”.
Repito
a piada: não sou pessimista; sou um otimista bem informado.
Continuaremos
a não acontecer em 2014.
Por
Arnaldo Jabor